Esse ano decidi passar natal e ano novo sozinho, na Tailândia. Tinha quase desistido de viajar, por que estava tudo meio caro. Mas uma baixada no preço durante a madrugada fez eu comprar a passagem.
O voo até Phuket, pela AirAsia, foi palha. Primeira vez que vi não servirem comida (a não ser pré-paga) numa viagem tão longa (três dias depois, um avião da mesma companhia, saindo do mesmo aeroporto, sumiu).
Phi Phi é a ilha aquela destruída pelo tsunami, há exatos dez anos. No dia 26 de dezembro, rolou o memorial, muito bonito, apesar de modestíssimo. Os restaurantes locais serviram comida grátis para o povo todo, para os turistas também. Bem gostoso.
Fora isso, o que tem de melhor nem está exatamente na ilha principal e, sim, em volta. Para isso servem os passeios de barco, onde nos levaram para mergulhar e ver os milhares de peixinhos coloridos, incluindo a celebridade maior, o peixe-palhaço, aka Nemo. De fato, bem bonitinho, vivendo dentro da anêmona dançante.
De noite, há muita festa, muita bebida, muito inglês, brasileiro, argentino, chileno, australiano, mas, principalmente, inglês bêbado. Na beira da praia, o destaque fica para os shows dos locais brincando com fogo. Alguns deles com menos de 10 anos, mandando ver nos malabarismos em alta velocidade. Impressiona.
A Tailândia é muito bonita, o lado mais negativo talvez seja o som: que língua mais desagradável de se escutar, muito anasalada.
Em Sydney, me dou direito a uma massagem por mês. Estando na Tailândia, um dos países oficiais da massagem, me prometi uma por dia. Em Phi Phi, foi fácil, variando preço e qualidade, a melhor mesmo foi a do último dia na ilha.
Os jovens festeiros da ilha são vistos a qualquer hora do dia ou da noite sendo tatuados, de maneira bastante casual, bebendo um baldinho de whisky, checando seus celulares, sendo perfurados pelo bambu, técnica tradicional da Tailândia.
Na segunda parte da viagem, peguei um barco para Koh Lanta, uma ilha um pouco mais tranquila. Alguns dizem que é ideal para casais em férias românticas, mas eu achei bem boa para estar sozinho. É difícil se enturmar em lugares como Phi Phi, onde tudo é festa, música alta, o pessoal sai em grandes grupos. Tive mais interações em Lanta.
Como a ilha é grande, bem maior do que Phi Phi, onde não há estradas, tive que tomar uma decisão drástica: aluguei uma scooter. Não dirigia uma motinho havia pelo menos 15 anos. Mas como o táxi do cais do porto até a minha cabana custaria mais ou menos o preço de alugar uma moto pelos 4 dias da minha estadia, acabou que tomei coragem e peguei a moto. Afinal, eu ando de bicicleta quase todos dias, não pode ser muito mais difícil, né? Quando eu tinha 12 anos, andava de GARELLI com meu primo Fábio para cima e para baixo, fazíamos corridas no meio da rua, passando por cima da calçada, lá no Barão do Caí, Zona Extremo Norte de Porto Alegre.
A real foi que a motinho rendeu alguns dos melhores momentos da viagem. Num dia meio chuvoso, dirigi até o outro lado da ilha, me perdi, acabei no meio do mato, onde só vi casas de locais. Dirigindo a scooter a quarenta por hora, bem tranquilo, vento na cara, escutando música, sozinho, no meio do nada em algum lugar da Ásia, me senti livre. É o tipo da coisa que podia DAR MERDA. Conseguia ouvir minha vó dizendo “MA NON É PERRRIGOOOOSO?” Era. Muita gente morre nas estradinha da Tailândia, por que tem muito buraco, cachorro pode sair de dentro do mato sem avisar, caminhonetes ultrapassam em estradas de duas mãos sem se importar se vem uma moto ou um tuktuk do outro lado. Mas deu tudo certo e foi muito bom.
Koh Lanta me proporcionou o mais espetacular pôr-do-sol que já vi. E vocês sabem que já vi MUITOS, incluindo os dois considerados os melhores do mundo: Oia, em Santorini, e… o do Guaíba, claro. Eu, com câmera na mão e celular com wifi, falando com nem me lembro quem no Skype, sacando fotos daquela beleza de todos jeitos possíveis. Foda.
Como alguns devem ter visto no Facebook, na minha foto de perfil, fiquei numa cabaninha clássica em Lanta. O problema é que, juntando dormir sem camiseta e andando de moto no vento e chuva, acabou que fiquei meio doente. Conheci uma sueca numa praia e ela é jogadora profissional de futebol. E ela conhecia a outra jogadora de futebol que conheci um ano antes, em Whitsundays. Almoçamos juntos e ela, vendo meu estado de saúde precário, me ofereceu para ficar na casa da família dela, na ilha. Sem pensar muito, fiz check out da minha cabana, recebi até uma diária de volta e fui para a casa dela, dentro de um condomínio fechado na beira da praia.
Chegando lá, caiu meu queixo: piscina, baia de dois andares, cinco camas, ar condicionado, ÁGUA QUENTE, algo que eu não via desde a chegada na Tailândia. Incrível a sorte. Ali passei os dois últimos dias do ano, tomei sopa, tomei um coquetel de remédios recomendados pelo meu farmacêutico local (o único local que sabia falar inglês direito, em toda viagem), tivemos uma janta boa na ceia de ano novo, nem bebemos, por que estávamos os dois doentes e assistimos aos fogos e balões de fogo subindo aos céus do pátio da casa dela, que tinha vista para o mar.
Depois desse acontecido aleatório e inesperado, me dei conta da sorte que tenho de vez em quando. Mostra que mesmo uma eventual gripe forte pode terminar em algo muito bom. Nos ensina a não reclamar, não perder tempo lamentando muito quando algo de ruim acontece. Logo ali na frente, algo bom vai acontecer, para equilibrar. Eu sei que é um clichê falar, mas eu finalmente me dei conta de verdade dessa história toda. Tenho tantos exemplos desse fenômeno na vida que nem vou detalhar, para evitar a fadiga. Mas geralmente é ligado ao nosso conforto, conservadorismo, acomodação. A gente não quer mudança, quer que as coisas continuem como estão. A gente só muda quando é forçado a mudar. E, geralmente, é para o bem.
O importante é focar sempre no lado positivo das coisas, não perder tempo com o negativo. Por sinal, semana passada recebi meu visto de residente permanente na Austrália. Só alegrias. Em pouco tempo, posso pedir cidadania australiana. Aí só me faltará um passaporte asiático e ganhei o War.
E uma coisa que aprendi vendo o GreNal: não se pode deixar o medo de perder ser maior que a vontade de ganhar. Ninguém precisa de mais um zero a zero nesta vida. Para atacar, tem que baixar a guarda, nem que seja por um segundo. E aí as coisas começam a acontecer.
O resto das fotos, aqui.